quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Relatos de uma noite.

São quase meia noite. Em dias normais, chegaria da faculdade, sentaria em frente ao computador, e assistiria um pedaço da falsa imagem humana em alguns sites familiares. Mas hoje, eu apenas olho para o relógio, e sinto a pulsação através de cada movimento do ponteiro de segundos. Vejo a vida fugir a cada minuto, jogado em meu sofá. Me levanto, meu corpo tem fome. Abro a geladeira, mas nada que alimentaria o vazio que sinto dentro de mim. Eu não preciso de comida. Eu não preciso de nada que a matéria possa me proporcionar. Esse vazio, acompanhado de um frio, cresce a cada badalar do relógio, da parede da sala, que observa enquanto agonizo e procuro me aquecer. Corro, pelo vazio de minha casa, arrastando-me em minha consciência, que vomita palavras hostis em minha mente, atormentando mais ainda meu corpo cansado. Nenhum de meus cobertores, nenhum de meus agasalhos, pode aquecer meus ossos trincados com o gelo do meu olhar. Ver estes olhos mortos, me aflige a carne, me faz querer arrancá-los.
Já são quase 3 da manhã, e eu ainda não encontrei o caminho dos sonhos. Meu corpo, imóvel, continua em mesma posição neste sofá. Não se trata mais da inércia, e sim uma questão de sobrevivência. Vejo minha mente girar, em torno do nada, enquanto apodreço em uma caverna escura. Não consegui mais seguir a minha força de vontade, até ela me abandonou. Minha respiração, já ofegante e sufocada, já não dá mais conta de suprir a falta que sinto do ar puro que sentia quando ainda podia respirar. O tempo, escuro lá fora, mostra o que meus olhos nunca virão quando estivera claro. Eu sentia medo. Eu estava com medo. Eu era medo.
Medo, desta vida terminar, logo que tudo melhorasse, medo de ter de enfrentar tudo novamente. Medo, de não ser suficientemente forte para suportar continuar me levantando, após cada golpe. Medo que amanhecesse, e não me lembrasse de me levantar, para passar por isso tudo novamente.
Sufocado, vejo meu celular despertar, já são 6 da manhã. Asfixiado por aquele medo, sou obrigado a me levantar. O corpo dolorido, pela noite não dormida. Me levanto, sabendo que viverei um dia longo, terei de sorrir enquanto sinto as feridas se abrirem por baixo desta máscara, olhando o relógio, e sabendo que minha tortura noturna se aproxima a cada segundo.